sábado, 9 de fevereiro de 2013

Polêmica tardia: Alcir Pécora e a Arte de Produzir efeito sem causa


Oi gente, bom dia, posto aqui o comentário que realizei acerca da polêmica criada pela resenha insalubre e mal feita do professor Alcir Pécora ao livro a Arte de Produzir Efeito sem causa do escritor paulistano Lourenço Mutarelli. A polêmica é tardia porque se realizou em 2008 (cinco anos atrás) e é polêmica pela boa resposta dada ao professor da Unicamp pelo jornalista Ronaldo Bressane, muito mais inteligente, crítico e analítico em sua análise da obra e da resenha, do que o conteúdo da resenha produzida por um Dr. em teoria literária.
A polêmica pode ser vista no site do Bressane: O IMPOSTOR
Abaixo colo minha resposta tardia ao problema:
 "Meu objeto de estudo é, justamente, a obra do Lourenço Mutarelli e A arte de produzir efeito sem causa é parte do corpus da minha pesquisa. Li a matéria do Bressane e a resenha do Pécora só agora. Nem sabia disso. Achei hoje quando comecei a elencar a bibliografia produzida sobre o Mutarelli.
Tenho problemas com a qualificação do Pécora como melhor professor de literatura pelo Bressane, não sei se foi um elogio para diminuir a crítica a uma resenha medíocre ou por conhecer o professor. Em primeira instância, bom crítico e bom professor são coisas bem distintas. Talvez ele seja um bom professor, um bom organizador, etc. Para mim o melhor professor de literatura hoje é o venerável Prof. Dr. Antônio Manoel dos Santos Silva, que no auge da sua aposentadoria continua lecionando na pós-graduação compartilhando sua sabedoria e suas descobertas de novos autores (porque ele lê todos os contemporâneos).
No entanto, a resenha acima não corresponde a uma resenha de um bom crítico. Digo isso não pela negatividade atribuída a obra. E talvez, como o colega acima haja dito, isso tenha recorrência com a recente descoberta do Pécora de que “a literatura está em crise”. Nesse quesito, abro um parênteses para dizer que a literatura SEMPRE esteve em crise, visto que, sem crise, não há literatura, porque não há o que ser dito. Isso se comprova pela constante alternâncias de “escolas literárias” e estilos durante a história. E mesmo que a crise seja outra, mais específica, essa angústia da contemporaneidade já é discutida desde o fim do modernismo de 30.
Agora, voltando à resenha em si, ela não é ruim, como já disse, pela negatividade que beira ao vulgar. Ela é ruim porque ela não é uma crítica analítica como se espera de um crítico. Ela é a crítica da vizinha: “Ai, não gostei dessa história”. Não me entendam mal, a vizinha tem todo o direito de não gostar, contudo, um crítico literário, ainda mais um crítico renomado , não possui o direito de simplesmente “não gostar”. Ele tem de dizer o porque e especificar. Acredito, que nesse ponto, a crítica do Bressane seja extremamente lúcida sobre análise literária. Desde o formalismo russo já deixamos de nos focar apenas na subjetividade para vislumbrar a obra como um todo. Se Pécora houvesse produzido uma análise problematizando o efeito de ritmo e suspensão na obra, o trabalho de hibridismo que existe entre a obra e o cinema, a fusão de texto como imagem, etc. E dizendo que isso não se realizou plenamente, por isso e aquilo. Isso seria uma crítica. Estaria errada, obviamente, porque estes pontos se realizam perfeitamente na obra e criam uma ligação extremamente rica com a história.
Falando em história, Pécora poderia ter criticado os elementos de narração e apresentar motivos pelos quais o autor não seria um bom narrador, mas isso também não existe. Criticar uma obra apenas pela sua história é um problema complicado, visto que, pela mesma lógica Ulisses seria ruim? O conto O Ovo e a Galinha seria ruim? Há uma diminuição da importância da história em favor da narração em várias das obras mais importantes da literatura moderna e contemporânea e isso não foi criticado pelo Pécora, acredito.
E nesse ponto eu teria de discordar, visto que acredito ser o autor um ótimo narrador. Creio que além de narrador, Mutarelli é um artista no sentido pleno da palavra. Além disso, é interessante notar a evolução e experimentalismo crescente em sua obra. Para os interessados, recomendo a leitura da dissertação de Liber Paz (2008) sobre os quadrinhos de Mutarelli, na qual o professor realiza uma análise extremamente interessante sobre como há uma evolução do traço e da estética nas narrativas em conjunção com uma evolução crescente. Infelizmente não tive acesso à dissertação da Lucimar ainda, mas estou providenciando isso.
Além de tudo, existe uma questão importante ao final da resenha do Pécora que se evidencia: O preconceito de gênero literário. Ao comparar o livro com um gibi, o crítico não o faz com intenção de analisar uma homologia ou diálogo inter-estrutural, mas o faz com tom de deboche, estabelecendo a priori que narrativas sequenciais (gibis) são sub-literatura. Desculpem-me, mas isso é ridículo. É extremamente retrógrado e falacioso depreciar um gênero por si próprio. Na verdade, é extremamente falacioso depreciar obras que não leu como menores. Muita gente faz isso com Paulo Coelho (particularmente não gosto, li Brida e Diário de um mago e existem problemas de ordem sintática e semântica nos dois romances que enfraquecem a construção das metáforas que o autor tenta criar), isto é, criticam sem ter conhecimento do que falam. Não li as outras obras do Coelho, mas não julgo que sejam ruins previamente. Ele pode ter melhorado, afinal.
Fato é, parece-me que o Pécora leu um resumo do livro e não a obra para escrever a resenha e fazer isso para falar mal é, no mínimo, uma grosseria."