segunda-feira, 5 de julho de 2010

Frio.

(Este é outro conto do blog Geneactivity. Ele é sobre a personagem Mushin. É outro exercício de criação de conto.)
Era inverno em Moscou, as pessoas evitavam sair de casa, preferindo se manter aquecidas em sua toca bebendo muita vodca. Mikhail Arshavin voltava do trabalho as 17 horas como sempre fazia. Seu motorista parou em frente da sua mansão e abriu a porta para ele. A neve caía grossa e pesada, nublando a visão e entorpecendo a pele, mesmo sob o pesado casaco, Mikhail tremia.
Ele entrou pela enorme porta dupla de carvalho com passos rápidos, buscando o calor de seu lar, enquanto seu motorista fechava as portas e voltava, no frio, para guardar o carro. Dentro do Hall, portas fechadas, ele depositou seu pesado casaco no guardador como sempre fazia e se encaminhou para a sala em busca de um gole de conhaque. Mikhail era um homem de hábitos regulares e se irritava quando algo estava fora do planejamento, tanto no trabalho quanto na vida pessoal, todos os seus movimentos eram planejados com antecedência e meticulosidade. Seus filhos eram criados de uma forma diferente do convencional, brincadeiras e carinho tinham hora marcada e contada, assim como todas as atividades das crianças.
As 17 e 30 ele estava relaxado em sua poltrona terminando de ler seu jornal, enquanto fumava um cigarro tomando conhaque. Sua mulher e filhas só desceriam para a sala as 18 horas quando ceiariam, estavam envolvidas em suas atividades e não poderiam interromper Mikhail em sua leitura. Ás 17 e 40 seria servido o café pela empregada para abrir o apetite e a disposição de mikhail para a conversa com a família. Mikhail gostava de saber os pormenores da existência de suas filhas e do que acontecia em sua casa, de certa forma, procedia como no trabalho, com meticulosidade marcial. Ele trabalhava na contra espionagem Russa, departamento A34 para assuntos externos, cuidava de eliminar possíveis agentes duplos e espiões infiltrados, nos seus 45 anos tinha um currículo militar admirável, de lealdade ao país.
Ele trabalhava na central de Moscou cumprindo um suposto horário comercial de trabalho, o prédio um edifício da Petrolífica Nacional, ramificação da contabilidade, somente uma fachada para a agência Russa. Alguns dias Mikhail fazia serões que varavam a madrugada, mas na maioria dos casos, como este, cumpria seu horário comercial normal. Estranhamente ele se portara mau-humorado no jantar, não perguntara nada para as filhas, permanecera quieto. Sua mulher tentou puxar assunto, mas ignorada, foi-se deitar. Ele permaneceu na sala, deveria estar lendo, mas os acontecimentos do trabalho o incomodavam. Uma discussão que mais parecera um interrogatório guiado por Nicolai, o chefe da espionagem, seu colega de trabalho odioso. Nicolai era uma máquina e suas engrenagens eram movidas por sangue. Nicolai adorava interrogatórios do velho modo da KGB, excruciantes. " A verdade só vem com a dor, a dor da morte" dizia ele sombrio, e depois ria para si mesmo, como se contasse uma piada antiga. Mikhail odiava-o, contudo Nicolai era demasiado eficiente para ser eliminado, tão eficiente quanto Mikhail, o que só aumentava seu ódio. O mais estranho foi a discussão que os dois tiveram, Mikhail se pegava pensando nisso desde que chegara. Ele inquiria Arshavin acerca de negociações com os árabes que Mikhail havia aprisionado, acusando-o de corroborar com os invasores e de ser um agente dos árabes. Era uma tolice, Arshavin nunca trabalharia para os árabes, ele ajudava os Estados Unidos fazia anos! Seria uma tolice comprometer-se com árabes.
Entretanto, Nicolai agira de modo estranho para o seu próprio comportamento, discutindo abertamente, ele que fora sempre reservado, nunca faria uma acusação dessas em aberto. Mikhail tomou um gole de conhaque, estava cansado e a neve caía ainda pesada lá fora. Dentro do quarto a lareira esquentava seus pés enquanto seu pensamento divagava na discussão com Nicolai. Estaria ele em perigo? Por precaução mandara um dos oficiais eliminar Nicolai, seu nome é Andrei Rasputin, um frio assassino da contra espionagem, encarregado do serviço de limpezada agência. Rasputin era rápido e sigiloso, cumpria seu papel sem fazer perguntas e não se questionava sobre quem mataria, era o melhor agente da organização e tinha vários privilégios. Nicolai dizia que ele era um dos geneativos, um dos modificados, mas Mikhail nunca tinha visto nada de especial em Andrei, nada a não ser sua habilidade em matança e sua aparência estranha, com olhos repuxados cinzas e cabelos brancos. Não era de se estranhar, sua mãe era uma mestiça afinal, japonesa e russa. Mas várias informações acerca do seu passado era consideradas secretas, até mesmo para Mikhail. Depois de um trago ele pousou o jornal. eram 20 e 45. Nicolai haveria de estar morto.
Ele bebeu o resto do conhaque num brinde de comemoração, sorriu, seu humor melhorara só com o pensamento de que Nicolai não mais existia. Se virou para a janela e quase caiu sentado novamente. A sua frente estava o mestiço, alto, branco, e frio. Ele olhava diretamente nos olhos de Mikhail, o que era aterrador conhecendo a fama do assassino que atendia por Mushin. "Você terminou o serviço?" perguntou Mikhail com a voz trêmula, as chamas da lareira ardiam fortemente. Andrei caminhou para a lateral da sala, ignorando a pergunta e ligou o rádio, um cd de Tchaikovsky tocou alegremente e preencheu a sala. Mikhail nervoso perguntou novamente.
Andrei se virou para Mikhail e respondeu" Ainda não, mas... Nicolai mandou lembranças." Eram 20 e 51 quando Andrei voltava para o frio.

Um comentário:

Guilherme Mariano disse...

Esses meus continhos são uma merda.