sábado, 3 de julho de 2010

Uma canção Galesa.

(Esse conto foi originalmente publicado no blog geneactivity. Ele é um dos contos acerca da personagem Richard Harris Teabing, o herói Crusader de um jogo de RPG e é um exercício de criação prosaica.)

É uma bela manhã de outubro, 17,4 graus celcius, vento forte à noroeste. A brisa marítima chega na encosta da montanha e toca as flores nos jazigos. É uma bela manhã, como todas as outras em que estive com você... sabe, não importa o que acontecesse, o que houvesse, saber que você estaria lá por mim era sempre um alívio, era reconfortante. Afinal, você sempre foi o mais forte de nós dois Merrick, sempre foi o mais puro. Não sei a primeira vez que notei sua presença ou você a minha, mas com certeza o fizemos juntos. Daquele quarto na parte sul da casa, que fica a 18 passos do quarto de nosso pai, aquele quarto de paredes brancas como a neve do ártico onde fomos colocados juntos e onde vivemos juntos até sermos considerados dignos de receber uma cama própria ao invés de berços.

Você esteve lá quando eu caí daquele maldito berço, eu me lembro que tínhamos três anos, me lembro fortemente do seu choro, acho que o fato de você estar chorando me traumatizou mais que a própria queda, e você sabe que eu odeio cair, como você mesmo disse anos depois com seu forte sorriso... "Levante Rick, cair não combina com você". É, não combina, embora venha ocorrendo cada vez com mais frequência irmão. Eu ando perdido, e como sempre na minha vida, venho atrás de você em busca de mim mesmo. Talvez seja isso Merrick, talvez seja esse o meu problema, talvez eu sempre soubesse que não éramos irmãos de verdade, que nosso pai não era meu pai... sabe a verdade? Isso me deixa confuso sim, o maior problema é me deixar confuso, e sim, me frustra também, porque no fundo, eu me orgulhava de ter seu sangue nas minhas veias, de saber que a coragem que você tinha, também era minha. E agora eu sei que não é.

Então quem sou eu? Quem é Richard Harris Teabing? Sabe a única coisa que me vem a cabeça quando essas dúvidas surgem? O único fato que nunca mudará independente de qualquer coisa? Você Merrick, você é meu irmão. Logo Richard Harris Teabing, ou seja, eu, eu sou seu irmão. E nada, nada no mundo pode dizer o contrário sobre isso. Que a genética babe sua saliva de genomas, que a química se perca na tabela periódica, que a matemática definhe em seus dilemas mentais, que a física se autoprojete pra fora da própria realidade. Nenhuma das ciências do mundo pode me dizer que eu não sou seu irmão, e olha que eu conheço todas.

Afinal, como poderia eu não ser seu irmão? Não foi com você que eu tive minha primeira briga? Meu primeiro soco, um direto de esquerda no meu maxilar. Doeu muito, nunca mais nos agredimos depois daquilo. Você por remorso, eu por bom-senso. Não foi pra você que eu sempre contei tudo? E o inverso não era verdade? Você sempre soube de todas as minhas falhas, de todos os meus "desvios de comportamento"? Só você soube que fui eu quem destruiu o carro do senhor Gibbins, a moto de Marlowe Jr e a saia da Senhorita Gwendolyne. Cada um por um motivo diferente... Mas só você sabe, até hoje, disto. Assim como só eu sei que você amou perdidamente Meredith, a empregada casada com quem você teve sua primeira vez. Eu soube disso no segundo em que vi seus olhos quando falei dela, por isso não te contei que ela havia se deitado comigo no outro dia.

E é por isso que cada dia 8 de outubro eu venho aqui pra te pedir perdão. Não por eu ter me deitado com ela, não foi culpa minha, eu não fazia idéia que você tinha se apaixonado pela maior defloradora da região, mas foi minha culpa não ter te contado. Assim como foi minha culpa o modo como você morreu. Se nosso pai não tivesse me adotado, me criado, você ainda estaria vivo Merrick. Vivo e feliz. E tudo por minha culpa, se eu não tivesse me engraçado com todas as mulheres de Oxford, se eu não tivesse me envolvido com Eliza ou nunca humilhado aquele doente mental do Gostrauken na sala de aula...Se, é a conjunção condicional mais maléfica do mundo. É o feto da auto-piedade.

Desculpe irmão, sei que você odeia me ver chorar, sempre odiou, principalmente por ser algo muito raro de acontecer, mas não consigo evitar, não estando aqui na costa de Callaghan, não estando aqui, na área reservada aos Teabing, tendo na minha mão um punhado de crisântemos roxos, os preferidos de nossa, sua mãe biológica, segundo nosso pai, os seus preferidos desde que você soube o que era um cheiro bom, e o que era um cheiro bom campestre. Desculpe Merrick, eu não consigo, não hoje... talvez um dia.

Entretanto eu faço juz a fama dos galeses. Eu não sou confiável, ao contrário de você irmão, você que sempre foi o mais honrado de nós. É, o padre disse tudo no seu funeral Merrick, Deus leva os justos e bons para perto de si, acho que vou arder no inferno... não que eu não mereça, mas eu gostaria de poder te encontrar de novo irmão. Gostaria de te dar aquele abraço forte, de ver seu sorriso brilhante outra vez e é duro saber que nunca mais isso vai acontecer.
É como aquela velha canção que nosso velho pai o Coronel Maddock nos cantava quando éramos crianças:

As aves de arribação chegaram
Nesta primavera bela
Enquanto a nossa estrela
e a lua se deitaram

Enquanto o sol aguarda nascer
Nós esperaremos por vocês
Aves de arribação tão doces
O morrer é apenas um adormecer

No qual do inverno se esconde
Num sonho de alegrias
De Callaghan nas pradarias
Voltar a caminhar por onde...

Adeus Merrick, até ano que vem. Obrigado por sempre me guiar pra junto de mim, afinal, você sempre foi o mais forte, e eu o mais errado. Obrigado por tudo meu irmão.

Um comentário:

Guilhotina Voadora disse...

Você copiou e colou um conto meu? Seu lazarento ladino larápio lezado!!!!!!! Vou guilhotinar você!! E vender sua cabeça pra chacais ignóbeis do sul da CHINA!!!
ME CITE!!! ou me ponha nesse blog LOGO!